Sabemos que as tatuagens existem desde a pré-história da humanidade. Não obstante, seus significados são diversos e complexos e variam de acordo com a época e a cultura. Este texto é resultado de pesquisar na clínica esses procedimentos que os adolescentes e jovens adultos realizam em seus corpos, embora não se possa dizer que sejam exclusivos destas faixas etárias. Considerá-las-ei como cicatrizes que revelam, do meu ponto de vista, as problemáticas em torno das particularidades relacionadas às inscrições parentais em nossa cultura.
Levando em consideração minha experiência clínica e pesquisas, conceituo as tatuagens como cicatrizes reveladoras,marcas simbolizantes (Catz, 2011), à maneira de inscrições e/ou decodificações de lutos em um espaço potencialmente criativo. Manifestações culturais, sociais e individuais que constituem verdadeiros pontos cruciais da subjetividade, se expressam inusitadamente por esta forma de linguagem, que oferece uma superfície de inscrição para a produção inconsciente do sujeito.
Portanto me proponho a sustentar a relevância clínica da tatuagem como uma linguagem gráfica, que pode favorecer a manifestação daquilo que denominei “Marcas Simbolizantes”, transformações que podem abrir um caminho para as representações mentais que são necessárias na produção dos conflitos psíquicos relacionados aos lutos e aos déficits das funções parentais na atualidade.
Desta perspectiva, as tatuagens como “marcas simbolizantes” (Catz, 2011) colocariam em evidência uma verdadeira eloquência ontológica de seu potencial entre o determinismo sociocultural e a história singular, que implica pelo menos três gerações através da imagem como escrita, laço social e expressão estética. Há um amplo leque de possibilidades que abarca desde a dicção como narrativa associativa até a a-dicção.